Brilho Na Lata

29/07/2011 20:59

O SEU VIZINHO AMBIENTALISTA certamente olha torto para você todo sábado de manhã - o período que você reserva para dar um trato no seu carro. Ele, o vizinho, tem razão: de 200 a 500 litros de água são usados na lavagem de um carro de porte médio. É muita água.

Mas você também está certo - lavar carro não é apenas questão de vaidade, mas de preservação da pintura. A limpeza, como você verá nas próximas páginas, ajuda a manter a pintura bem-conservada por mais tempo, evita o surgimento de focos de ferrugem (que exigiriam uma ação menos amigável ao ambiente, que é a pintura feita com tintas com chumbo, usadas pela maioria das funilarias e boa parte das fábricas). E, afinal, nada como circular com um carro brilhando, certo?

De 200 a 500 litros de água são usados na lavagem. E é bom lavar toda semana

Fim da lavagem: lataria tinindo, carro cheiroso, pintura mais bem-conservada

Carro se lava à sombra e com produtos específicos. A água acumulada em gotas sobre a carroceria age como uma lupa sob o sol, queimando a superfície da lataria, enquanto todos os sabões domésticos possuem alguma acidez que é potencializada com a temperatura externa.

Mesmo aquelas barras brancas de coco, ao contrário do que você aprendeu em casa, não são neutras. Elas têm soda cáustica na composição. O certo é usar um xampu automotivo. Despeje água sempre de cima para baixo. Use uma mangueira de jardim, de preferência as com gatilho, ou abra e feche a torneira quando não precisar da água, para não desperdiçar - e atrair ainda mais a ira do vizinho.

Se preferir usar baldes, certifique-se de que toda a carroceria foi molhada e que a sujeira mais grossa foi removida antes de começar a ensaboar. Use esponja, aquelas grandes específicas para lavar carro. "Se for um pano, ele precisa ser bem macio, ou então uma toalha felpuda", diz Denis Barba, da 3M. Mantenha dois baldes: no primeiro, dilua o detergente na água; no outro, somente água limpa, para enxaguar o pano ou a esponja.

Durante a lavagem, troque a água do segundo balde. Deixe para lavar as partes mais sujas, que são as saias laterais, a parte inferior dos para-choques e, principalmente, as rodas no final. Assim você não contamina desnecessariamente a sua esponja (e por contaminação entenda-se sujeiras que podem riscar a tinta). No fim, seque tudo com um pano macio.

PUXAR O BRILHO

Com o carro todo limpo e seco, a dúvida é: polir ou encerar? A resposta depende de uma avaliação crítica. Se a carroceria estiver em bom estado, o enceramento é suficiente. As ceras são polímeros que aderem ao verniz superficial da carroceria, protegendo a pintura de ataques externos.

Há diversos tipos de ceras: em pasta, líquidas, em spray, limpadoras... "A função da cera é dar brilho e proteger. Alguns produtos dão mais brilho e outros dão mais proteção", diz Barba. Se você quiser reforçar o brilho é preciso usar as ceras limpadoras, que têm abrasivos em sua composição e que fazem um pequeno polimento.

Mas se o objetivo for a proteção, prefira os outros produtos. Lembrese: o passar do tempo, a ação do sol e a água da chuva acabam dissolvendo a proteção. De forma geral, as ceras em spray e líquidas duram menos que as em pasta. Evite excessos, aplicando uma leve camada, e utilize uma flanela, estopa macia ou papel de polimento.

"Faça a aplicação em pequenas áreas, sempre em movimentos circulares. Após a secagem, use estopa macia e limpa para remover o material, uniformizar a área e puxar o brilho necessário", explica Sophia Milner Cury, engenheira da Ceras Johnson.

No caso da cera em pasta há um truque para saber o momento exato: espere um minuto e passe o dedo sobre a superfície ainda lambuzada. Se o produto estiver seco e a carroceria brilhar, retire o resto. Se a consistência ainda for pastosa, aguarde

Nada de sabão de coco ou aquele sabão em pó que promete branco total: carro se lava com xampu

QUEIMADA

Pinturas muito queimadas, que não consigam recuperar o brilho somente com as ceras limpadoras, precisam de um polimento.

O serviço usa uma pasta com abrasivos que removem a camada superficial do verniz, que está queimada, e uniformizam a superfície, deixando tudo brilhando novamente.

O procedimento para polir a lataria é o mesmo do enceramento. Parece bom. Mas é preciso tomar cuidado. Se o polimento for mal-executado, ele deixará manchas na pintura. Repare que alguns carros pretos possuem pequenas manchas que mudam de acordo com o ângulo do Sol.

São o que os profissionais de pintura chamam de "holograma", resultado de polimentos e enceramentos incorretos. Outro problema é que o polimento, justamente por remover a camada superficial da tinta, não pode ser executado a toda hora.

Um polimento feito corretamente retira de um a cinco mícrons da superfície (um milímetro tem 1.000 mícrons) e o verniz, que é a parte da pintura responsável pela proteção do conjunto e pelo brilho, tem espessura de 50 mícrons.

"Não recomendo polir em dia chuvoso, pois a pasta vai demorar para secar, embaçando o brilho", diz Sophia.

ESPELHO

Há outro tipo de polimento, a cristalização ou espelhamento, dependendo da marca que vende os produtos. O princípio é o mesmo: trata-se de uma limpeza mais profunda na pintura usando até lixas (por isso só pode ser feita por empresas especializadas) e, no fim, aplica-se uma cera com teflon.

O brilho fica mais intenso, homogêneo e duradouro. Custa caro - chega a R$ 800 em alguns lugares, ou quatro vezes mais do que um polimento comum. Fala-se que o espelhamento e a cristalização prejudicam uma eventual repintura (por exemplo, em caso de uma pequena colisão). Mas se o pintor for um bom profissional, ele vai lixar uma área suficiente da carroceria antes de aplicar a tinta e o verniz, independentemente de o carro ter recebido o teflon ou não.